quinta-feira, dezembro 24, 2009

Como Proteger o Seu Computador ou a Sua Página na Web (para iniciantes)

Comece por imaginar que a sua propriedade (PC ou Web Site) constituem uma cidade que pode estar sob ameaça de ladrões ou invasores. Eu costumo explicar este processo recorrendo à Guerra de Tróia. O seu papel é o de monarca troiano, a quem compete zelar pela segurança da cidade. Os gregos seriam os oponentes, aqueles que querem tomar conta do que não lhes pertence.
A primeira barreira é a muralha que, em princípio é inexpugnável. São os portões (bem guardados) que controlam as saídas e entradas. No caso de um computador, à muralha dá-se o nome de firewall. A firewall é um programa que, uma vez instalado no seu computador vigia o tráfego entre o seu PC e o mundo exterior. Há comunicações autorizadas e outras que são simplesmente barradas. Portanto, esta é a primeira linha defensiva e que merece toda a sua atenção. Há firewalls gratuitas e outras com valor comercial. Eu cá prefiro a Zone Alarm porque a minha experiência me diz que funciona lindamente e não é nada complicada de gerir. E ainda por cima é gratuita. Mas vale a pena experimentar outras. As mais avançadas vigiam todos os programas instalados no computador e, de cada vez que um tenta entrar em contacto com o exterior, perguntam ao utilizador se autoriza ou não que a comunicação seja estabelecida. Ainda há algumas, mais completas, que protegem a integridade dos seus programas. Sempre que um dos seus programas está em vias de sofrer uma transformação, a firewall interrompe o processo e pergunta ao utilizador se autoriza que o programa seja modificado.
Como não há muralhas perfeitas (e a Guerra de Tróia demonstrou isso mesmo, uma vez que foi ludibriada pelo célebre cavalo de madeira construído por Ulisses), tem que haver um policiamento no interior da cidade (do PC neste caso). O papel do antivírus é precisamente policiar o seu computador à procura de programas invasores que tenha conseguido ultrapassar a muralha defensiva. A firewall e o antivírus complementam-se na tarefa de manter o seu sistema seguro. O que não falta no mercado são antivírus, que variam na marca e no preço. Para se entender a qualidade de um antivírus, parta dos seguintes critérios: precisão na detecção de programas indesejáveis. Alguns detectam mal (ou não detectam) a presença de vírus e outros produzem falsos alarmes a torto e a direito, o que deixa o utilizador quase paranóico, com a sensação que estão a aparecer ameaças de toda a parte. O meu preferido é o Kaspersky. É fácil de configurar e tem uma precisão espantosa. Detecta todas as ameaças e não emite alarmes falsos.
Há programas especializados em detectar ameaças muito específicas, para além dos vírus. Hoje em dia, a detecção de todo o tipo de programas maliciosos já vem incluída no antivírus.
Mantenha sempre os seus programas actualizados, especialmente o antivírus e a firewall. Ainda está para nascer um programa sem falhas e são precisamente esses pequenos “defeitos” que os hackers exploram para invadir seu computador. A maioria das empresas de software disponibiliza frequentemente actualizações que visam corrigir pequenos erros que podem ser explorados por hackers.
Tenha cuidado com as páginas que visita na Web. Os que têm pouca credibilidade, lançam muitas vezes programas maliciosos para o computador do visitante. Os sites pornográficos costumam ser os mais inseguros.
As recomendações que delineei até agora são suficientes para o comum utilizador, aquele que não tem no computador documentos com valor económico ou informações que carecem de secretismo.
A maioria dos hackers são adolescentes que dominam técnicas básicas de invasão. Só conseguem invadir sistemas desprotegidos com utilizadores inexperientes. Perante uma boa firewall e um bom antivírus eles são completamente impotentes,
Os outros hackers, que têm conhecimentos avançados de informática e que, muitas vezes trabalham em equipa, não vão despender o seu precioso tempo a invadir o computador do vizinho. Querem é obter informações que os ajudem a ganhar dinheiro.
Portanto, o invasor tem quase sempre a dimensão do sistema que pretende atacar. Os miúdos querem é atacar sistemas e dar cabo de páginas web para depois se andarem a gabar aos amigos, convencidos que são uns autênticos génios da tecnologia. Os outros atacam empresas, corporações, sistemas governamentais e regem-se pela lei do silêncio.
Assim sendo, ao utilizador comum resta-lhe seguir as recomendações já descritas, para fazer a sua vida de cibernauta em paz e sossego.
Certifique-se também que a página do email onde insere o nome de utilizador e a palavra-passe é mesmo legítima, porque pode ser deparar com uma página igualzinha mas que foi criada pelo hacker para obter os seus dados confidenciais.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Consumption, James Carrier

Consumption is the meaningful use people make of the objects that are associated with them. The use can be mental or material; the objects can be things, ideas or relationships; the association can range from ownership to contemplation. This definition is broad and vague because anthropologists have been less concerned with defining their approach to consumption than with rejecting two previous approaches, those of conventional economics and Marxian *political economy. Researchers criticize these approaches for ignoring the social and cultural processes that underlie needs, generate demand and are satisfied in consumption (Douglas and lsherwood 1978; Sahlins 1976). While anthropologists recognize that some needs have a material basis, they stress the fact that need and demand reflect the ways objects facilitate social relationships and define social identities (e.g. Douglas and lsherwood 1978: ch. 5).
Scholars have long reflected on the meaningful use of objects. tMax Weber and tThorstein Veblen are two examples from around the beginning of the twentieth century. Despite this history, the systematic social study of consumption is relatively recent, being overshadowed by the study of social organization and production. Social science encyclopedias of the mid-1980s could still discuss consumption solely in economic terms.
One key concern of students of consumption is the way that objects carry significant social meanings. Just about ali objects have always carried such meanings to a degree. However, many argue that these meanings became especially pronounced in the West around the time ofthe rise of *capitalism and mass production; so much so that the West became a consume r society. This period saw a change in the way that Westerners thought about objects, as the symbolic gratifications of consumption loomed larger in people's minds (Campbell 1987). This change was facilitated and exploited by commercial firms, themselves growing larger and more aggressive (McKendrick, Brewer and Plumb 1982). Prominent among these were retail merchants, who were beginning to place their wares in novel and exotic displays in order to generate sales. This was especially true of department stores, the retail merchants who have attracted the greatest scholarly attention (Williams 1982).
For individuais, the first step in consumption is appropriation, establishing a mental association with the objects to be consumed. ln capitalist societies this means that *individuals transform objects from being impersonal commodities into things with distinctive meanings for the consumers and distinct places in the consumers' social lives (Carrier 1990; Miller 1987). Once appropriated, people can use the objects to define their place in different social units. For example, the clothes one wears can be important for defining one's gender, social rank, ethnic identity and a host of other social attributes. Less obviously, when and how one eats can be important for defining social cycles of time, whether time of day, season of the year or ritual cycles (Douglas and lsherwood 1978). The cumulative effect of these individual acts of definition is a common structure of consumption at the societal leveI. This structure of consumption in turn reflects and recreates the identities of social groups that consume in distinctive ways, as well as the differences between those groups (Bourdieu 1984).
Students of Western societies tend to focus on the way that consumption creates the distinction between different entities like *classes or *ethnic groups, probably because mass consumption is so established in the West. On the othêr hand, mass consumption in the Third World is relatively new, and research there tends to focus on the way that consumption creates novel social identities and entities. Many assert that the spread of Western consumables into Third World countries does not, as some had argued and feared, lead to homo-geneous Westernization. Instead, it leads to the creation of national hybrids (Hannerz 1987; Foster 1991). These hybrids consist of interpretations and adaptations of Western products developed and shared by indigenous people themselves. Such hybrids can generate common national consumption communities that displace pre-existing sub-national or colonial patterns, and so are important in creating the nation itself as a social and cultural entity (Wilk 1995). Equally, those national patterns can become self-sustaining. This can happen when fringe groups within the country adopt national consumption patterns in order to assert their membership in the emerging nation (Hirsch 1990), a process which increases the impartance of those national consumption patterns.
As the study of consumption matures it will need to address two issues. One is the denotation of 'consumption' itself, which seems at times to mean little more than 'not production'. This broad, vague, implicit definition is fertile, but is unlikely to help scholars develop a coherent view of the subject. The othei:- issue is more complex. At present researchers tend to investigate the ways that people impose meaning on the objects in their lives. However, many such objects come with complex structures of meaning already in them, such as song and television programmes,' or already attached to them through advertising and global cultural imagery, such as soft drinks and sports goods. If they are to develop a rounded account of consumption, scholars will need to address ways that these pre-existing meanings affect those ~ho consume the objects that carry them. JAMES G. CARRIER
In Encyclopedia of Social and Cultural Anthropology, Alan Barnard & Jonathan Spencer (Eds), Routledge

sexta-feira, outubro 09, 2009

Crítica à sociedade de consumo (imagens)


Estes cartazes alertam para o perigo do consumo e para excessiva influência que tem na nossa sociedade. Uns acusam o consumo de estar a destruir as relações sociais verdadeiras, substituindo-as por algo que é artificial, feito em série.Outros focam a destruição do meio ambiente.

domingo, outubro 04, 2009

Uma Introdução ao Hacking

Este artigo não pretende fomentar o crime informático, mas sim dar a conhecer uma realidade importante nos nossos dias. A palavra ‘hacking’ é aqui utilizada como sinónimo de um processo utilizado por alguém que procura invadir um sistema informático. Para trás ficam as outras definições, favorecidas pela riqueza da palavra, como ‘criativo’, ‘programador’ ou ‘especialista em segurança’.
É óbvio que, quanto mais amplos forem os conhecimentos de informática, maiores são as opções do hacker. No entanto, é possível dar os primeiros passos nesta arte negra sem saber programar, por exemplo. As técnicas estão facilitadas hoje em dia graças à existência de programas que fazem quase tudo e que podem ser utilizadas por qualquer pessoa, incluindo o utilizador que não tem conhecimentos profundos de Informática. Este artigo procura dar a conhecer tais programas, em que consistem e como se utilizam para invadir uma rede.
O primeiro passo de qualquer hacker consiste em recolher informações sobre o sistema que pretende conquistar. Inicia, portanto, o processo recolhendo dados técnicos ou de outra natureza que lhe permitirão descobrir uma forma de penetrar na “fortaleza”. Repare, caro leitor, que para descobrir uma palavra-passe, por vezes, basta iludir a pessoa que a detém levando-a a revelar-nos o segredo. Para isto nem é preciso ligar o computador. Basta entrar em contacto verbal com a vítima e ter uma “boa lábia”, a capacidade de criar uma conversação nos nossos moldes. Em português chama-se a esta técnica “tirar nabos da púcara”, mas os hackers preferem um nome mais sofisticado: engenharia social. Acredite, estimado leitor, que muitas invasões são praticadas por indivíduos sem grande perícia técnica, mas peritos na arte de “bem conversar”.
Deixemos agora o doce linguajar e rumemos aos tais programas de que lhe falei. A primeira classe de programas que deve conhecer é a dos scanners.
Um scanner é, por definição, um dispositivo que “sonda” outros computadores, redes ou outro tipo de hardware e que permite recolher informações. Há dois tipos de scanner: os que sondam redes inteiras e que, no final do processo lhe oferecem um relatório com as características da rede e das máquinas por ela interligadas (scanners de rede); e os scanners que pesquisam vulnerabilidades num determinado hospedeiro (um computador, por exemplo). Estes últimos, denominados scanners de vulnerabilidades, procuram no computador da vítima informações que possam ser exploradas pelo atacante para levar avante os seus intentos. Há muita variedade neste campo de software. Eu sugiro apenas estes:
Nmap – para utilizadores de Linux
GFI LANguard – para utilizadores de Windows


Imagem: GFI Languard

Ao utilizar estes programas não se está a cometer nenhum crime. É como estar na rua, diante de uma casa, observando tudo o que se passa. Ninguém vai preso por analisar, a partir do exterior, uma habitação, ainda que preste especial atenção a janelas e portas abertas, fechaduras, etc. No entanto, caro leitor, recomendo que não use os scanners para investigar organizações governamentais ou de empresas. Têm sempre equipas de segurança e basta estar a “olhar” para lá para que se torne suspeito. Se fizer um scanning à NASA, não se admire de, passado algum tempo, ter uns agentes a bater-lhe à porta.
Após ter recolhido informações sobre o sistema que pretende invadir, precisará de uma outra classe de programas para “arrombar a porta”: os exploits. Qualquer software instalado num computador tem a capacidade de…errar! A sua vítima tem no PC programas que terão comportamentos imprevistos se receberem instruções para as quais não estão preparados. Um exploit é um programa que executa instruções no computador da vítima, que geram erros num determinado software que lá está instalado, e que podem ser utilizados a favor do atacante. Há exploits para todos os gostos. Os hackers, espalhados pelo mundo inteiro, já se deram ao trabalho de encontrar vulnerabilidades em todo o tipo de software e de criar exploits que exploram os pontos fracos dos programas.
O sítio milw0rm (http://www.milw0rm.com/) é um verdadeiro armazém de exploits que qualquer pessoa pode descarregar para depois utilizar contra outro computador.


Imagem: exploit em execução

Há outra classe de programas, a que eu chamo tudo-em-um, que fazem o scanning da máquina-alvo e que contêm também exploits para invadir. Ou seja, recolhem informações e depois atacam, “automatizando” o processo de assalto. Recomendo dois:
- O Metasploit (gratuito) http://metasploit.com/
- O Core Impact (caro e não está acessível a qualquer pessoa) http://www.coresecurity.com/content/core-impact-overview

A partir do momento que o atacante entrou no computador da vítima, tem duas opções: faz o que tem a fazer no momento ou então tem que arranjar uma maneira de poder voltar lá mais tarde sem ter o trabalho inicial. Para poder voltar ao “local do crime” as vezes que forem necessárias, recomenda-se a utilização de outra classe de programas: os Cavalos de Tróia. Um Cavalo de Tróia é sempre constituído por dois programas. O primeiro (denominado servidor) é instalado no PC da vítima; o outro actua no computador do hacker (chamado cliente). Os dois programas comunicam um com o outro e permitem que o invasor tenha o controlo completo da máquina que invadiu. No seu computador, o hacker abre a “sua parte” do Cavalo de Tróia (cliente) e fica diante de si com um painel de opções. Dentro das muitas (inúmeras opções) do painel contam-se: transferir ficheiros de um PC para o outro, tomar conta do rato, abrir as gavetas de CD (os hackers gostam destas brincadeiras), gravar tudo o que se passa (incluindo imagens de webcam) ou simplesmente apagar todo o conteúdo guardado no computador (formatar os discos).


Imagem: Cliente do Cavalo de Tróia NetBus (antigo)









Pode acontecer que o hacker tenha diante de si um ficheiro que está protegido por palavra-passe. Para “quebrar” as senhas existem programas específicos (password crackers), cada um especializado no software para o qual foi programado. Há de tudo: para quebrar senhas do Word, Pdf, Zip, do próprio Sistema Operativo, etc. Nem sequer vou aqui sugerir alguns, uma vez que a oferta destes programas é imensa. Escreva no Google “password cracker” seguido do nome do programa que pretende desvendar (por exemplo, “password cracker Windows”, para ter diante de si vários programas que descobrem as palavras-chave do famoso Sistema Operativo da Microsoft).

Invadir uma página da Web pode passar por utilizar métodos já aqui descritos (como os exploits, para invadir o servidor onde está hospedada a página), a Engenharia Social (a tal “lábia” que leva uma pessoa a dizer o que não deve), um Cavalo de Tróia (o hacker tem acesso ao PC da vítima e, consequentemente, às palavras-chave) ou então utiliza um processo denominado phishing, que consiste em criar uma página de login igualzinha à que o utilizador vê diariamente e dela se serve para estabelecer ligação com a página Web. O resultado é que a vítima vê uma página que julga ser real e na verdade é um embuste criado pelo hacker. Introduz os seus dados, como está habituado a fazer, e estes são enviados para um e-mail que pertence ao bandido. Não irei aqui descrever ao pormenor como se cria uma destas páginas falsas. Em traços largos, basta copiar para o seu computador a página de login do site (clique com o botão direito do rato na página e escolha “guardar página como”) e, uma vez tendo uma cópia no seu computador, pode alterar o HTML de forma apropriada. Depois, hospeda o seu “trabalhinho” num servidor e envia para a vítima o link da sua página falsa (por e-mail, por exemplo). Ao clicar no link, o utilizador verá uma página de login igual à que usa todos os dias. A diferença é que, ao inserir o nome de utilizador e a password, estas serão enviadas ao assaltante.
Ao descrever estas técnicas procurei dar-lhe uma ideia de como “a coisa funciona”. Há inúmeros recursos na Internet, incluindo aulas em vídeo que explicam de forma muito simples como se executa os processos aqui descritos e outros. Há cursos inteiros de hacking.
Finalizo esta breve introdução sugerindo-lhe dois fóruns, em Português do Brasil, que lhe poderão ser úteis.
http://www.forum.darkers.com.br/
http://www.invasao.com.br/

sexta-feira, outubro 02, 2009

A Ideologia do Humano

A Ideologia do Humano
A construção social do atributo humano

Humano é algo que é único. Não digo “alguém” porque os objectos, animais e plantas podem adquirir a mesma qualidade. Ser humano é mais uma característica (ou conjunto de características) do que uma essência independente do espaço e do tempo, do observador ou de uma perspectiva.
Ser humano é uma ideologia. Repare, caro leitor, que eu utilizo a palavra “ser” como verbo e não como substantivo sinónimo de “ente”.
É-se humano quando os outros reconhecem em nós certas propriedades. A primeira é a da singularidade. Daí que um clone não se enquadre na ideologia. Tudo o que foi alvo de replicação cai fora deste âmbito. Outra das condicionantes da ideologia aponta para uma história natural. Isto é: um humano tem um passado que o moldou, uma história que não foi projectada por design, é acidental e complexa. Não foi produzida em fábrica nem em ateliê, mas gerada pelo trajecto social. Isto quer dizer que nada tem o atributo humano sem que lhe seja reconhecida uma genealogia.
Outra característica aponta para os humanos como unidades discretas; ou seja: seres com limites, com uma forma autocontida. Cada um é uma unidade. E dentro dessa unidade existe um universo com contornos bem definidos.
Os animais também podem ser humanos, desde que lhes sejam atribuídas as características da ideologia. Um gato é visto pela dona como um ser original, diferente de todos os outros gatos. Tem uma história de vida, nas mão da dona ou fora delas.
O aspecto mais importante da ideologia do humano é a existência de emoções, sensações ou sentimentos, que se manifestam através de reacções aos estímulos que lhe são enviados pelo meio circundante. Como cada um reage de maneira diferente aos mesmos estímulos, dizemos que tem uma “personalidade” própria. Os comportamentos, mais ou menos habituais, contribuem para que o observador trace um perfil, ao qual chamamos carácter. É a forma física e comportamental que faz com que os observadores atribuam um carácter específico a cada Ser. Portanto, humano é um atributo que pode ser reconhecido em qualquer Ser, desde que tenha carácter.

Ver também o texto Humano neste blogue

quinta-feira, outubro 01, 2009

O Poder da Aparência Pessoal

Poder pode ser definido como a capacidade de influenciar o comportamento dos outros. Há inúmeras formas de Poder, do económico ao político, do retórico ao coercivo. Neste breve artigo irei descrever o poder da aparência pessoal. Talvez lhe seja útil, caro leitor, aprender como pode influenciar o comportamento dos outros manipulando apenas a sua maneira de se apresentar.
Comecemos pela integração num determinado grupo, aquele no qual pretende conquistar poder. Nunca escolha uma aparência que seja demasiado diferente da norma do grupo. Repare na maneira como se vestem, no cabelo, nos gestos e nas opiniões. Procure mimetizar os padrões que o ajudarão a ser aceite pelo grupo. Depois, observe os critérios que lhe darão um estatuto superior (marcas de roupa, acessórios, etc). Use, sempre que possível, os símbolos de status próprios do grupo. Exceptuando as comunidades juvenis, um cabelo curto e bem tratado dar-lhe-á um aspecto credível. As pessoas confiam mais num homem com o cabelo bem aparado, penteado e fixo do que num cabeludo de aspecto negligé, que é muitas vezes sinal de desleixo.
Se quiser passar uma imagem de maturidade acrescente umas ligeiras entradas brancas ao seu penteado. Nunca pinte o cabelo todo de branco ou com fios brancos dispersos, uma vez que pode ser interpretado como sinal de velhice ou decadência.
Sorria sempre que possível. Um sorriso abre portas. Faz com que uma pessoa seja mais atraente aos outros e facilita a criação de empatia.
Quando gesticular use gestos abertos. As suas mãos devem partir de dentro para fora e mantenha a região peitoral exposta, a sobressair na sua figura. A pose revela quase tudo. Um indivíduo encolhido e de gestos tímidos passa despercebido ou é desvalorizado. Um sorriso descontraído, gestos abertos e o peito para fora exprimem audácia, cativam o público e elevam um orador ao estrelato.
Escolha bem as cores do vestuário que vai utilizar. Opte por uma cor que condiga consigo. Pergunte a pessoas de confiança qual é a que lhe fica melhor. Nunca faça do seu corpo uma miscelânea de cores. Vista-se todo da mesma cor ou, no máximo, duas. Prefira cores neutras ou frias consoante o seu objectivo. Pode optar por tecidos com ou sem brilho, dependendo do impacto que quer causar no público. A classe política prefere usar fatos azuis-escuros por transmitirem sobriedade e rigor. São agradáveis à vista e encaixam no estereótipo do “colarinho branco”, o gestor que trabalha arduamente num escritório ou gabinete.
A diferença entre um político e um empregado de escritório (ou funcionário de um banco) está no fato que cada um usa. Os políticos optam pelo azul-escuro acetinado. São fatos que “marcam”, impressionam quem os vê. O vulgar funcionário de escritório veste fato e gravata porque é a farda obrigatória e isso nota-se. A gravata mal escolhida, o corte do casaco que não assenta totalmente, o xadrez horrível de alguns tecidos, revelam o subalterno e diferenciam-no do governante, membro da oligarquia, senhor das decisões principais.
O bigode é hoje em dia um anacronismo. No passado era um símbolo de masculinidade e servia para disfarçar narizes pouco estéticos. Actualmente ninguém quer usar bigode. Esconde parte da expressão facial e aparece associado às classes sociais mais baixas. O homem contemporâneo dispensa a pilosidade facial e os arcaicos pelos do peito a sair da camisa, que dão uma aparência kitsch se forem complementados por um cordão dourado, com ou sem crucifixo.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Consumo: uma Introdução

Um artefacto é qualquer coisa que tenha sido produzida pelo Homem. Um artefacto de consumo é um objecto cuja utilização não é feita pelas mesmas pessoas que o produziram.
O consumo em massa só apareceu quando as primeiras unidades fabris começaram a operar. A razão está na capacidade de replicar inúmeras vezes o mesmo objecto. A produção em massa diminui o custo de fabrico de cada mercadoria. Banalizou-os, reduzindo-os ao mínimo valor económico. Distanciou-se do valor da singularidade e da raridade.
A produção em massa conduziu à procura de novos mercados, satisfazendo as necessidades dos consumidores ou inventando necessidades que não existiam. A urgência de escoamento dos produtos massificados conduziu a alterações comportamentais da população. Ninguém consumia Corn Flakes antes dos produtores de milho implementarem novas técnicas agrícolas, que fizeram aumentar exponencialmente a produção. Ninguém tinha necessidade de ter relógios de várias cores e formatos, cada um a condizer com um tipo de roupa, antes da Swatch popularizar o conceito de relógio-adorno.
Foi a produção em massa que, através da publicidade, alterou o comportamento de consumo das populações. Por sua vez, os novos hábitos de consumo alteraram os padrões diários e a cosmovisão das sociedades ocidentais.
Através de processos culturais, a publicidade manipulou a nossa consciência da realidade. Em regra, a publicidade tenta criar na mente do público uma associação entre o produto e um ideal que já existe (residual). O ideal hegemónico de masculinidade tem servido, por exemplo, para conferir uma identidade específica (masculina) à mercadoria que pretende vender. Máquinas de barbear, after-shave, automóveis e tabaco são alguns bens de consumo que, à luz do público, reforçam a identidade masculina de quem os usa. Digamos que um indivíduo se sente “mais homem” por usar uma determinada colónia ou fumar a marca X. O mesmo acontece com outras identidades pessoais. A feminilidade, a sensualidade, a juventude, a atitude desportiva, o estar na moda, são alguns exemplos. As mercadorias que consumimos marcam muito a noção de quem somos. Por vezes temos a sensação que somos o que consumimos.

terça-feira, setembro 29, 2009

O Passado no Presente

O tema do passado é fundamental. Em termos ontológicos, o passado já não existe. O que existe é a memória (que é mutante) e as consequências que as acções do passado têm na forma como o presente está estruturado.
Quando um movimento procura estabelecer um novo paradigma político, um dos processos mais eficazes é a manipulação da memória.

Temos que deixar de pensar na história como um conjunto de acontecimentos que existem de per si. A imagem que temos do passado é sempre perspectival; ou seja, é sempre uma construção cultural que parte do ponto de vista e dos interesses de quem detém o poder de produção da história.

Qualquer regime baseia-se sempre num conjunto de parâmetros culturais, numa mentalidade (ou visão do mundo). Destes parâmetros faz parte a memória histórica. Daí que qualquer mudança política seja sempre precedida de uma mutação espiritual. É que para chegar ao poder não chega fazer um "putsch". É preciso que o novo regime faça sentido à luz do sistema de valores dominante. Isto porque um regime, ainda que não seja populista, precisa de ter nas suas mãos o coração de uma parte significativa da população.

Quando se pretende agir politicamente há três atitudes possíveis em relação ao passado:
- A ruptura absoluta, característica da modernidade como fenómeno cultural. Em nome de um certo conceito de progresso, a modernidade procurou "arrumar" com o passado para um canto (religião, tradições, etc).
- A evolução, no sentido de aperfeiçoamento, do passado. Este processo foi escolhido por Marcello Caetano a partir do momento em que tomou conta dos destinos da Nação. Actualmente também existem "renovadores". O trabalho destes indivíduos é quase sempre ingrato, quando tentam salvar um regime cuja entropia é irreversível.
- A restauração. Trata-se de criar uma ponte entre o presente e uma dada época histórica cuja memória nos provoca a sensação de saudade. Qualquer coisa que não esteja ligada à memória histórica é kitsch, dá-nos sempre uma sensação de artificialidade e "mau gosto".

segunda-feira, setembro 28, 2009

Um Mundo Melhor

Disse Karl Popper que cada comunidade de seres vivos segue o mesmo fim: procurar um mundo melhor. Uma mudança de nicho ecológico, uma transformação interna que possa adaptar melhor a espécie ao meio circundante, a migração para um local onde o meio seja mais abundante…
Talvez a intenção inconsciente de Popper fosse a de universalizar a todos os seres vivos uma característica profundamente humana: a Utopia.
Todos nós procuramos o lugar perfeito ou tornarmo-nos perfeitos para o lugar que habitamos. A relação entre o Homem e o Ideal não pode ser datada. Existiu sempre. A procura da perfeição exprimiu-se logo nos primeiros hominídeos, com os seus utensílios e práticas de nomadismo. Depois, o Sagrado e o Mundo Espiritual perfeito.
Procurar um ideal parte do desejo de dominação: dominarmo-nos a nós mesmos e ao meio que nos rodeia, de maneira que estes se adeqúem a determinada forma.
Os ideais humanos focam quase sempre os mesmos temas: Liberdade, Justiça, Paz e Abundância. Paradoxalmente, atingir um ideal não dá serenidade, ou quando dá, é de curta duração. A mente voa, a imaginação divaga. E surgem novos ideais. Ainda que o Ideal seja atingido, o Ser Humano criará outro.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Humano

Há certos crentes que ficariam mais chocados se uma imagem ou estátua do seu ídolo fosse vandalizada do que se o vizinho fosse esbofeteado. Porque é que isto acontece? Porque o "humano" é um atributo que pode ser projectado noutros seres que não façam parte da definição biológica de Homo sapiens. Nós podemos sentir que algo é humano independentemente das suas características materiais (físicas). É como se o humano fosse um espírito que pode habitar um Homo sapiens, um ídolo ou até um animal de estimação.
O humano de que falo é um parâmetro cognitivo (inato) que se pode manifestar de forma diferente, consoante a vida social e afectiva de cada um. O problema é que este parâmetro pode ser manipulado de forma a valorizar alguns seres e a discriminar outros.
Humano é um ser dotado de alma. Utilizo a expressão alma sem conotações religiosas. Alma aqui é uma substância imaterial que confere propriedades específicas a algo: singularidade, capacidade de evocar nos outros sentimentos e emoções, não se esgota na compreensão humana, tem um lado obscuro, inspira a imaginação do observador e tem um atributo fundamental: vontade própria. Quem reconhecer estas características num objecto, num animal, numa planta ou num Homo sapiens, atribui-lhe humanidade.
Humano pode ser um rótulo, mas é um rótulo que defende os seres de potenciais abusos. A opressão começa com a desumanização, que pode ser expressa ou implícita, assumida ou inconsciente. Eu só consigo matar ou praticar certas crueldades a um ser se não o considerar humano. Há processos mentais que provocam o "desligar" da empatia e a objectificação do outro. Posso dar como exemplo a guerra. Nenhum soldado conseguiria alvejar o inimigo se não tivesse uma preparação psicológica prévia de desumanização dos soldados inimigos. Podemos fugir à questão e dizer que «humano é toda a gente», mas a verdade é que os nossos comportamentos muitas vezes demonstram que não somos assim tão abrangentes.

Ver também o texto A Ideologia do Humano neste blogue

O Centro Comercial

Os centros comerciais são hoje em dia muito mais que espaços de compra e venda de produtos. Fazem parte da rotina diária de milhões de pessoas em todo o mundo e cumprem inúmeras funções, para além das comerciais. Em meados da década de oitenta, os empresários que projectaram estes edifícios começaram a introduzir actividades lúdicas e serviços que não apenas tornavam viável a permanência mais prolongada dos clientes mas que também os atraíam como forma de ocupação dos tempos livres. Em primeiro lugar é possível passar um dia inteiro no shopping sem que isso implique ficar privado de outras necessidades. O cliente tem ao seu dispor um amplo parque de estacionamento (por vezes gratuito) onde pode estacionar o seu meio de transporte por tempo indeterminado, zona de restauração com serviço permanente, locais de apoio às crianças (fraldário, sanitários especiais, actividades lúdicas, etc), locais de convívio (por vezes com espaços verdes), pontos de acesso à internet e um autêntico exército de funcionários preparados para satisfazer as mais diversas necessidades dos clientes (informações, segurança, apoio a deficientes, são alguns exemplos).
Estas são as condições de base que possibilitam aos utentes uma sensação de confiança e descontracção. Não é necessário sair do edifício para satisfazer necessidades que vão do carácter fisiológico até ao profissional. Hoje em dia é possível ir trabalhar para o centro comercial, bastando ao utente sentar-se diante de um computador. Mas se o shopping cumpre estas funções tão objectivas (comércio, trabalho e satisfação de necessidades básicas) porque é que cada vez mais pessoas o vêm como espaço de lazer? Por um lado, estes locais foram aos poucos concentrando no seu interior actividades comerciais tradicionalmente associadas à descontracção, diversão e convívio. O tradicional café com esplanada transferiu-se para o centro comercial, tal como os jardins, as arcadas de jogos e os parques de diversão. Por outro lado, o centro comercial transformou-se de forma a ser pouco perceptível a separação entre o lazer e o comércio. A arquitectura e a decoração são cada vez mais atraentes e menos formais, a distribuição espacial das diversas actividades procura diluir as diferenças institucionais que cada uma cumpre. Daí que todo o espaço do centro comercial seja, nos dias que correm, encarado como zona de lazer. Ao fim-de-semana é frequente vermos famílias a passar dias inteiros no shopping. Convivem, tomam todas as refeições, fazem compras, visitam exposições (de pintura, escultura, etc), apreciam as últimas novidades nas montras das lojas, vão ao cinema e recreiam-se no parque de diversões.
Todas as actividades são percepcionadas como lúdicas, mesmo que inicialmente tenham uma finalidade objectiva (comprar uma ferramenta, fazer transferências bancárias, mandar consertar um electrodoméstico, trabalhar através da internet, etc). Como o espaço do edifício foi projectado para transmitir um ambiente de lazer, tudo o que existe no seu interior adquire o mesmo carácter. Trata-se de um mecanismo cognitivo (estético) através do qual o pequeno espaço integrado (a loja) adquire o mesmo sentido do espaço mais vasto (o centro comercial). A reforçar este mecanismo podemos encontrar a atitude dos transeuntes. É raríssimo encontrarmos alguém nestes locais com uma indumentária formal, uma maneira de andar tensa ou com grandes formalidades. Regra geral, os utilizadores “passeiam” descontraidamente pelos corredores, deambulam muitas vezes com um rumo pouco definido enquanto apreciam a paisagem do centro. Durante os momentos de convívio, passados à esplanada de um café ou nos inúmeros bancos distribuídos pelos corredores, a conversa é serena, com temas triviais e cheia de boa disposição. O comportamento descontraído dos utentes, sendo reflexo do clima propiciado pelo espaço, acaba também por ser mais um processo indutor de descontracção e informalidade. Quando entramos no centro comercial somos envolvidos por uma arquitectura e decoração informais e confrontados com uma paisagem humana constituída por indivíduos relaxados e alegres. O resultado é sentirmo-nos da mesma forma, passamos a fazer parte do mesmo ambiente lúdico.
Nesta altura podemos concluir que os centros comerciais são espaços altamente eficazes na produção de estados de espírito descontraídos e bem-dispostos. Mas este é apenas o início do processo, a base fértil na qual se irão desenvolver teias de relações sociais. A desinibição dos utentes do shopping dá lugar a comportamentos criativos e de procura de prazer. Trata-se do aspecto mais importante deste texto, que irei delinear de seguida.
Quanto maior for a oferta de serviços, comerciais e lúdicos, maior é a atracção exercida sobre os consumidores. A diversidade providencia ao cliente uma sensação de poder, o poder de escolher. Este fenómeno por si só já é gerador de prazer. No entanto, a diversidade cria a percepção de um espaço sem limites, que não é monótono. Um grande shopping possibilita um número quase infinito de percursos. No mesmo espaço, cada visita oferece uma experiência singular, consoante o trajecto percorrido.
Apesar do número de lojas ser finito, há sempre remodelações. Há lojas que fecham e cedem o espaço a outras, contribuindo para quebrar a monotonia e renovar a paisagem do centro comercial.
A paisagem humana é sempre diferente. Em cada visita é possível apreciar novos transeuntes, que se passeiam pelos corredores e constituem um interesse visual muito particular. Consoante os seus interesses, o explorador urbano pode contemplar os dotes do sexo oposto, tomar consciência da indumentária característica de cada visitante, analisar os “tipos” corporais e sociais predominantes no espaço à sua volta, mas também se pode mostrar. Através do vestuário e da postura corporal, qualquer indivíduo consegue transmitir aos outros uma identidade particular. Por isso, o cliente habitual do centro comercial usa o espaço para se mostrar, para comunicar a sua identidade específica.
É nesta teia visual onde se cruzam valores de género, moda, atracção sexual, estatuto socioeconómico e outros, que se estabelecem relações sociais. Tudo num ambiente de informalidade. É possível “meter conversa” com outro transeunte ou com as pessoas que exercem a sua actividade profissional no interior do centro comercial. São relações “leves”, descontraídas, que podem durar alguns minutos ou vários anos. Também é comum transportar para o shopping relações sociais que nasceram noutros contextos. Uma vez que o centro comercial oferece um ambiente lúdico, os amigos, as famílias e os casais procuram estes espaços para ocupar os tempos livres fugindo aos ambientes formais e monótonos do seu quotidiano.
Por estas razões, um centro comercial é muito mais do que um simples aglomerado de espaços de transacção económica. É um universo próprio de relações sociais, dinâmico e sem forma (isto é: sem limites, inacabado). O centro comercial é uma narrativa aberta e, por isso, exerce fascínio sobre tanta gente. Qualquer pessoa pode escrever mais um capítulo na vida daquele espaço, ou criar a sua própria história. É um local para ver e ser visto, para ser produtor e produto da paisagem urbana.