O "restauro" do fresco feito por Cecilia Giménez,
de 81 anos, ao original de Elías García Martínez está a originar uma
verdadeira peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia de Borja,
em Espanha.
Passada a
impressão inicial, a que nos levou a lançar as mãos à cabeça, analisemos este
fenómeno com a acuidade que ele merece. D. Cecília, pintora menos do que
amadora – infantil até – lançou-se ao restauro com materiais impróprios. Acabou
por transformar o original numa imagem completamente diferente, nada realista,
uma figura indefinida.
Os
admiradores da pintura de Elias Martínez devem ter ficado chocados. Mas se é
verdade que esta idosa de Borja destruiu, não nos será permitido pensar que D.
Cecília também criou?
D. Cecília
Giménez destruiu o Passado, uma figura pictórica realista, um retrato definido
ao pormenor, representativo; para colocar por cima um Presente, um novo olhar,
o seu ponto de vista.
O que é que
está agora no Santuário em Borja? Uma obra danificada ou outra coisa? Depende
do ponto de vista, obviamente. Mas seguramente existe agora um novo artefacto:
o erro de D. Cecília. Neste momento o erro tem um valor próprio, uma dimensão
cultural e já foi apropriado socialmente. Nas redes sociais da Internet há
dezenas de milhar de pessoas que se manifestam no sentido de que se mantenha
a imagem como está. Centenas de visitantes querem vê-la.
O erro de
D. Cecília tem mais valor (social e, provavelmente, económico) do que a pintura
original de Elias Martínez. Foi um erro muito bom. Está a beneficiar o Santuário
e a localidade de Borja.
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