terça-feira, fevereiro 07, 2006

Cassandra e o Povo

Cassandra era filha de Príamo (o último rei de Tróia) e de Écuba. Obteve o dom da profecia graças a Apolo, que lhe prometeu ensinar as suas artes divinatórias em troca de certos “favores”. Cassandra aceitou a proposta e recebeu as lições do deus, mas, uma vez ensinada, esquivou-se aos seus desejos. Este, como vingança, cuspiu-lhe na boca, retirando-lhe o dom da persuasão mas não o de prever o futuro.
Esta princesa troiana é conhecida, sobretudo, graças às narrativas sobre a guerra de Tróia. Passava a vida cheia de angústia porque, geralmente, as pessoas que a rodeavam não davam grande importância às suas previsões. O maior sofrimento foi provocado quando, por diversas vezes, ela avisou o pai que o príncipe Páris traria a ruína à cidade de Tróia. Nunca lhe foi dado o devido crédito e Tróia ardeu sob o poder dos exércitos gregos.
O mito de Cassandra tem sido utilizado na psicologia e noutras ciências como metáfora. Quando alguém consegue ver a realidade de uma forma mais esclarecida e tenta avisar os outros sem sucesso, essa pessoa poderá sofrer do complexo de Cassandra.
É usual que os grupos evitem previsões catastrofistas em detrimento de pareceres mais favoráveis. As pessoas dão mais atenção a quem lhes augura um futuro auspicioso do que aos ‘profetas da desgraça’. Este é um mecanismo psicológico que pretende salvaguardar o bem-estar emocional. No entanto, gera-se uma tremenda angústia no indivíduo que vê a desgraça aproximar-se do grupo porque ninguém presta atenção às suas recomendações. Experimentem reparar nas previsões dos astrólogos, tarólogos e outros ‘futurologistas’. As previsões são, na sua maioria, francamente positivas. Quando são negativas aparecem sob a forma de eufemismos ou de períodos efémeros. Regra geral, o povo gosta é de ouvir boas notícias e palavras cheias de esperança. Se conseguirem encontrar um político de carreira que sofra do complexo de Cassandra talvez o Céu e a Terra mudem de lugar...

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